Colóquio “A Escola do Estado Novo”

Terça, 29 abril 2014 Escrito por Administrador

Colóquio “A Escola do Estado Novo”

   

   

No dia 24 de abril, pelas 10.20h, cerca de 200 alunos do 9.º ano e do ensino secundário, aguardavam o início do colóquio “A escola do Estado Novo”, a decorrer no polivalente da EBSPB. Nesse espaço, é possível observar uma exposição comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril, que resultou da colaboração dos grupos de História e Geografia de Portugal, História e Geografia. Inclui a reconstituição de uma sala de aula do período do Estado Novo, cartazes do 25 de Abril das últimas décadas, “O retorno de África”, com testemunhos de “retornados” residentes em Ponte da Barca, e cartazes com uma visão comparativa entre o 25 de Abril e o presente.

A exposição foi visitada pelos convidados para esta atividade, Professora Céu Bivar, Professor Rómulo Sousa e Dr. Marques Pinto, e contou com a presença do Diretor do Agrupamento e da Vereadora da Cultura, Dra. Sílvia Torres. A declamação de alguns poemas, acompanhados de acordes a lembrar Abril, por alunas do 10.º ano, foi o mote para a primeira intervenção no colóquio.

A facilidade de comunicação e o sentido de humor dos intervenientes rapidamente cativaram o auditório. Tomou a palavra a Professora Céu Bivar – situação improvável há 40 anos atrás! “O 25 de Abril não me disse muito na altura porque eu tinha comida, roupa e carinho, mas sentia que alguns dos meus colegas eram notoriamente marcados pela miséria, tapada por uma bata, de uso obrigatório para todos”. Recordou a separação entre raparigas e rapazes, a repressão e os castigos, a sopa dos pobres. “Ainda hoje não sei ao que sabia, mas ficou-me o cheiro”. Ao falar da exigência da escola daqueles tempos, do professor distante… abre a bolsa e tira uma lousa. “Isto era o nosso computador, o nosso tablete”. Irrompem risos e gargalhadas e refletimos na distância que separa aquele retângulo de ardósia das novas tecnologias… Saudades tem da biblioteca itinerante, que de 15 em 15 dias trazia novos livros para ler. Apela à leitura, lembra alguns autores e que “não esqueçam Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira que, muito antes do 25 de Abril, já lutavam pela liberdade”.

O Professor Rómulo, no início da sua intervenção, citou Rómulo de Carvalho acerca da ideologia do ensino do Estado Novo: “Deus, Pátria e Família”, o respeito, a obediência… Referiu-se ao atraso de Portugal relativamente à alfabetização, a um regime que não admitia a coeducação e que não valorizava a escola porque “uma população inculta era facilmente dominada pelo Estado”. Enfatizou as Declarações dos Direitos Humanos e da Criança que “vieram estabelecer direitos imprescindíveis, mas que também implicam responsabilidades e deveres”. Pegou num minúsculo livro… “Isto é a Constituição, onde estão consignados todos os nossos direitos e deveres como cidadãos. Devem defendê-la e construir a vossa própria democracia”.

O encerramento do colóquio coube ao Dr. Marques Pinto, para quem “ficamos sempre mais novos quando falamos para a juventude”. Viajamos no tempo, para um tempo em que não havia eleições livres nem liberdade de expressão e a censura e o lápis azul chegavam a qualquer simples produção escrita. Referiu o “contexto doentio da partida dos jovens para a guerra colonial” e como a maioria da população não frequentava a escola, “o analfabetismo era uma chaga na sociedade portuguesa”. Numa passagem para o contexto atual, questionou as médias de acesso ao ensino superior e, para espanto dos alunos, revelou que, quando era estudante, quem tinha as médias mais baixas ia para medicina e as mais altas para as engenharias. Apelou aos jovens para seguirem a sua vocação, para não emigrarem e não se guiarem apenas pelos valores materiais. Todos aplaudiram quando terminou a sua intervenção: “A vida de um estudante não pode ser cinzenta, a vida de um estudante tem de ser colorida!”

Terminava uma aula brilhante!

Um agradecimento à Professora Céu Bivar, Professor Rómulo Sousa e Dr. Marques Pinto pela amabilidade da sua presença, pela partilha de experiências, pela simpatia e sabedoria, que fascinaram todos os presentes.

Parabéns aos alunos, pela atenção e interesse com que assistiram a este colóquio.

O Grupo de História

 


 

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