Nos 98 anos das Aparições de Nossa Senhora da Paz

Terça, 12 maio 2015 Escrito por jrocha

Nos 98 anos das Aparições de Nossa Senhora da Paz

  

Há 100 anos, grassava a I Guerra Mundial. E, nas trincheiras do conflito, estavam Portugueses, lutavam homens de Ponte da Barca.

Longe, muito longe, de todo este mundo de aflições, vivia o pequeno Severino Alves. Tinha 10 anos e todo o seu tempo de menino era ocupado a pastorear os rebanhos, nas redondezas do lugar do Barral, freguesia de Vila Chã S. João (Ponte da Barca).

No dia 10 de maio de 1917, Severino inicia a jornada, com a mesma rotina de sempre. Mal o Sol tinha acabado de espreitar nas alturas do Livramento, já o nosso pastor ia a caminho dos montes.

Nos seus dedinhos de miúdo, corriam as contas do terço que rezava devotamente, enquanto, com o olhar, tangia o rebanho a caminho do pasto. Até que, numa ramada, perto da ermida de Santa Marinha, sentiu um relâmpago... Era um clarão tão forte e tão brilhante, que o menino ficou estático, impressionado por um grande medo.

Vencida a emoção, deu alguns passos, atravessou um portelo, e olhou em redor. Severino tentava perceber o que se estava a passar...

Nesse momento, avistou uma Senhora! Tinha as mãos postas e o seu rosto era lindo, lindo como nenhum outro. Vestia-se de branco e um manto azul cobria-lhe a cabeça. Toda ela era cheia de luz e de esplendor!

Fascinado com tamanha beleza da Aparição, o nosso pastor recuou uns passos e caiu por terra, surpreendido com tal acontecimento.

Ainda exclamou “Jesus Cristo”, mas nesse mesmo momento a Visão desapareceu...

No dia seguinte, 11 de maio de 1917, uma sexta-feira, sem que sentisse relâmpago algum, quando atravessava o portelo, deparou com a mesma Senhora, que estava no mesmo sítio.

Severino caiu de joelhos. Olhou, depois, o rosto sorridente da Aparição e disse-lhe o que o seu pároco lhe havia aconselhado:

– Quem não falou, ontem, fale hoje...

Então, a voz da Aparição manifestou-se, tranquilizando-o:

– Não te assustes, menino, sou Eu!

E acrescentou:

– Diz aos pastores do monte que rezem sempre o terço, que os homens e mulheres rezem o terço todos os dias e cantem A Estrela do Céu. E as mães que têm os filhos lá fora que rezem também o terço, cantem A Estrela do Céu e se apeguem Comigo, que Eu hei-de acudir ao mundo e aplacar a guerra.

E, depois de uma pausa, perante o silêncio espantado de Severino que apenas respondeu “Sim, Senhora”, a Visão, olhando para uma ramada, exclamou:

– Que gomos tão lindos, que cachos tão bonitos!

O pastorinho olhou e, quando se voltou, viu que a extraordinária Aparição já tinha desaparecido.

Uma alegria imensa encheu-lhe a alma. Correu, feliz por ser protagonista de um acontecimento sobrenatural. Ele queria partilhar tão grande maravilha com os seus pais e vizinhos!

 

Centro Mariano

A notícia espalhou-se, de boca em boca. Dois jornais do Porto difundiram-na, pelo país. As pessoas começaram a acorrer, aos milhares, vindas das mais diversas terras. Foi assim nos primeiros anos, mas, com o tempo, a afluência começou a diminuir, a diminuir...

Nem seria de esperar outra coisa, pois, no local, nem sequer existia uma imagem, muito menos uma capela. A atenção e a devoção iam-se concentrando em Fátima, onde Nossa Senhora se começara a manifestar a Lúcia, Francisco e Jacinta, dois dias mais tarde, a 13 de maio do mesmo ano... E, assim, as aparições da Senhora da Paz, no Barral, quase caíram no esquecimento.

Quase! Porque, no cinquentenário das aparições, em 1967, a Confraria de Santa Ana decidiu construir uma capela a Nossa Senhora da Paz. O templo foi inaugurado, a 15 de setembro de 1969.

Seguiu-se a construção de uma cripta, cujo altar é formado por um grande bloco de quartzo cristalizado, o maior existente em Portugal, com cerca de três toneladas. São também erigidos monumentos ao Sagrado Coração de Jesus, ao Anjo da Guarda de Portugal e à Paz, todos constituídos por um pedestal de quartzo cristalizado.

O Cónego Professor Doutor Avelino de Jesus da Costa, também nascido no Barral e contemporâneo do pastorinho, é o grande mentor de todo este projeto que integra ainda o Santuário de Nossa Senhora da Paz, edifício mais recente.

Em 1982, foram inaugurados a Biblioteca e o Museu do Quartzo que apresenta uma rica coleção de belos cristais de quartzo, quase todos extraídos na própria freguesia.

Hoje, este é um centro religioso e turístico com algum movimento, tal a beleza do cenário que se pode contemplar no local. O dia maior é o da peregrinação, que se realiza no último domingo de maio.

A caminho do centenário, importa avivar a nossa história e cultivar a nossa identidade. Porque não há futuro sem um presente que honre e valorize o passado…

Prof. Luís Arezes

 


 

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