“Amor de Perdição” foi um golpe de manipulação a favor da causa de Camilo

Quarta, 10 junho 2020

“Amor de Perdição” foi um golpe de manipulação

a favor da causa de Camilo

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A vida de Camilo Castelo Branco e a relação íntima desta com o processo de criação da obra "Amor de Perdição" foi o tema de uma longa conversa que o editor José Manuel Costa teve com alunos e professores da Escola Secundária de Ponte da Barca.

A sessão realizou-se em linha, através da plataforma “classroom”, tendo sido aberta pelo Diretor do Agrupamento, Prof. Carlos Louro, que aplaudiu mais este momento de enriquecimento curricular, resultante da parceria estabelecida com as edições Opera Omnia.

Recorrendo a um acervo considerável de imagens, o responsável pela editora conduziu os participantes numa interessante viagem, desde o nascimento de Camilo, em Lisboa (1825), até à sua morte, em S. Miguel de Seide (1890).

A infância, marcada pela perda dos pais, e a adolescência e juventude, por terras de Trás-os-Montes, mereceram particular atenção, assim como a sua formação sob a orientação de clérigos, lendo os clássicos portugueses e latinos e literatura eclesiástica.

O seu carácter insatisfeito, instável, irrequieto, levou-o a uma vida profundamente tumultuosa, sobretudo em termos sociais e amorosos. Casou-se com apenas 16 anos e, até conhecer Ana Plácido, foi protagonista de vários enlaces pouco duradouros, incluindo uma relação com a freira Isabel Cândida, que acabaria por lhe criar uma filha nascida de uma outra mulher.

Depois de ter andado por diversas localidades de Trás-os-Montes e do Minho, fixou-se no Porto, onde iniciou o curso de medicina, que não concluiu, e se apaixonou por Ana Plácido.

Quando esta se casou, em 1850, com o rico negociante Manuel Pinheiro Alves, Camilo teve uma crise de misticismo, chegando a frequentar o seminário. Mas foi sol de pouca dura, pois logo tratou de seduzir Ana Plácido, raptando-a e andando com ela a monte, num período rocambolesco de verdadeira novela, que terminou com os dois amantes na Cadeia da Relação, no Porto.

 

Uma vida infeliz

Foi na Cadeia da Relação que Camilo conheceu e fez amizade com o famoso salteador Zé do Telhado e, com base nesta experiência, escreveu “Memórias do Cárcere”. E foi também aqui que foi visitado pelo rei, D. Pedro V, e escreveu “Amor de Perdição”, uma obra que, segundo José Manuel Costa, é um magnífico golpe de “marketing” para conquistar a simpatia do público, antes do seu julgamento.

Naquela época, o caso emocionou, de facto, a opinião pública, pelo seu conteúdo tipicamente romântico de amor contrariado, à revelia das convenções e imposições sociais, envolvendo uma figura aclamada como escritor a nível nacional.

Aliás, neste contexto, José Manuel Costa realçou o facto de o autor ter dedicado o livro a Fontes Pereira de Melo, à época o homem mais poderoso do país, num claro exercício de manipulação e de condicionamento.

Os seus objetivos foram conseguidos, pois acabaram absolvidos do crime de adultério, por não haver provas, passando a viver juntos, corria o ano de 1863.

A última parte da vida de Camilo foi passada em S. Miguel de Seide (Famalicão), numa casa que o filho de Manuel P. Alves, ex-marido de Ana Plácido, recebera por herança do comerciante, entretanto falecido.

Foram uns 26 anos vividos sob o signo da infelicidade, sem a estabilidade emocional por que ansiava, com dificuldades financeiras e desgostos atrás de desgostos provocados pelos filhos e pela doença que, a pouco e pouco, lhe ia minando a vida.

Até que a 1 de junho de 1890, face a um diagnóstico médico que lhe destruiu a última esperança, decidiu dar um tiro na cabeça. Mas até neste momento supremo de desespero foi extraordinariamente infeliz e tragicamente sofredor: esteve cerca de duas horas em agonia de morte.

Recorde-se que esta sessão aconteceu no âmbito da parceria que o Agrupamento mantém com as edições Opera Omnia e contou com uma organização conjunta da Biblioteca Escolar e do Grupo de Português.

No próximo dia 18 de junho, é a vez de Cândido Martins, investigador e professor universitário, dinamizar uma sessão sobre o “Memorial do Convento”, de José Saramago, outra obra que faz parte dos conteúdos programáticos de Português no Secundário.

Prof. Luís Arezes

 


 

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