A CANTIGA É UMA ARMA – “O que faz falta”

Quinta, 09 novembro 2023

A CANTIGA É UMA ARMA – “O que faz falta”

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A caminho dos 50 anos do “25 de Abril”, continuamos com a rubrica semanal “A Cantiga é uma Arma”.

Nesta edição, vamos ao encontro da canção "O que faz falta", que faz parte de um single de José Afonso, editado a partir do álbum “Coro dos Tribunais”, publicado no Natal de 1974.

Apesar de ter vindo a público depois do “25 de Abril”, a verdade é que este tema foi cantado, pela primeira vez, ainda antes da Revolução dos Cravos, para os operários da Fábrica da Abelheira.

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Segundo Nuno Pacheco, no seu artigo de opinião “José Afonso, Alípio e a força da memória” (Público, 23/02/2017), certa noite, ainda em 1973, Zeca Afonso «foi cantar “O que faz falta” para que uma fábrica não fechasse e ela não fechou – era a Fábrica de Papel da Abelheira, do grupo Champalimaud, de onde saiu o papel para imprimir o livro “Portugal e o Futuro”, de António de Spínola, obra que, como recorda João Paulo Guerra, "forneceu a muitos dos Capitães de Abril uma bandeira e um ideário para derrubar o regime."»

O jornalista Mário Lima, por sua vez, lembra que «a fábrica fora encerrada em 15 de janeiro de 1973 e que os trabalhadores resistiram aos despedimentos ocupando as instalações de São Julião do Tojal, Loures.»

«O José Afonso foi lá cantar uma noite. Eu estive lá como jornalista do “Notícias da Amadora”. A notícia é que teimou em não sair», certamente por obra da censura.

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«O José Afonso foi na qualidade de homem solidário. E, já que lá estava, cantou. Cantou “O que faz falta…”, acompanhado por um coro de vozes de trabalhadores ao longo de meia hora, três quartos de hora… Sempre em crescendo, um crescendo de emoção e exaltação, com estrofes e versos improvisados sobre o refrão: O que faz falta é avisar a malta… animar a malta… juntar a malta… organizar a malta… libertar a malta… armar a malta…"», refere ainda Mário Lima.

Quase 50 anos depois, este grito de cidadania mantém-se vivo e traduz-se num apelo constante à intervenção esclarecida, pró-ativa.

Vamos, então, ouvir e cantar “O que faz falta”, com Zeca Afonso…

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