A CANTIGA É UMA ARMA – “Eu vim de longe, eu vou p'ra longe” (1982)

Quinta, 21 março 2024

A CANTIGA É UMA ARMA – “Eu vim de longe, eu vou p'ra longe” (1982)

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Em 1982, oito anos depois do fim do seu exílio em Paris, José Mário Branco publicou “Ser Solidário”, um duplo álbum original que navega entre o fado e o jazz, entre a canção francesa e a moda popular.

Uma das canções em destaque no disco, sobretudo pelo profundo significado da letra, é “Eu vim de longe, eu vou pr’a longe”.

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Sete anos depois do fim do Processo Revolucionário Em Curso (PREC), que agitou Portugal, o artista interpreta um sentido testemunho de desilusão, ou melhor, de “derrota”, mas também de esperança, face ao curso dos acontecimentos, entre abril de 1974 e novembro de 1975:

“Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei p'ra ti
E então eu entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou”

Profundamente desiludido, ou “derrotado”, com o rumo dos acontecimentos, o artista deixa, no entanto, uma mensagem final de otimismo e de esperança:

“Quando finalmente eu quis saber
Se inda vale a pena tanto qu'rer
Eu olhei p'ra ti
E então eu entendi
É um lindo sonho p'ra viver
Quando toda a gente assim quiser

(…) São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer”

A história da produção do álbum “Ser Solidário” merece, aliás, uma referência. Não conseguindo o apoio de nenhuma editora nacional para o publicar, José Mário Branco optou por apresentar as canções em formato espetáculo, no Teatro Aberto, em Lisboa.

As apresentações ao vivo, que se prolongaram no tempo, sempre esgotadas, foram aproveitadas para distribuir um cheque-disco pelo público, que serviria como pré-financiamento para a edição do álbum, numa pioneira estratégia pioneira de “crowdfunding”.

O famoso tema “FMI” era parte integrante do espetáculo “Ser Solidário”. Gravado numa das exibições, foi publicado em formato maxi single em 1982 e oferecido juntamente com o LP “Ser Solidário”, apresentando a mensagem de que, "por determinação expressa do autor, ficava proibida a audição pública parcial ou total da obra."

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Independentemente do posicionamento que cada cidadão possa ter face ao curso da Revolução dos Cravos, “Eu vim de longe, eu vou pr’a longe” tornou-se uma canção emblemática, com o seu refrão a fazer parte do imaginário nacional.

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Eu vim de longe, eu vou pr’a longe”, com José Mário Branco…

É uma interpretação no “Programa Vozes de Abril” da RTP, realizado ao vivo no Coliseu dos Recreios em 2008, no âmbito das comemorações do 25 de Abril.

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