A CANTIGA É UMA ARMA - “Grândola, vila morena” (1971)

Quinta, 25 abril 2024

A CANTIGA É UMA ARMA - “Grândola, vila morena” (1971)

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Há 50 anos, mais precisamente, aos 20 minutos do dia 25 de abril de 1974, foi para o ar, no programa “Limite” da Rádio Renascença, a cantiga “Grândola, vila morena”, de Zeca Afonso.

Estava dada a segunda senha, confirmando, por todo o país, que a Revolução seria para avançar. E os militares que estavam à escuta em diversos quartéis trataram de entrar em ação, para tomar pontos estratégicos, especialmente em Lisboa.

Não admira, por isso, que, apesar de ter sido a segunda música utilizada naquela noite para desencadear a Revolução, “Grândola, vila morena” se tenha identificado, desde a primeira hora, com o que aconteceu no dia 25 de abril de 1974, tornando-se um hino icónico.

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Composta em 1964, após uma atuação de José Afonso na vila alentejana de Grândola, onde foi bem acolhido pela Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, a canção faz parte do álbum “Cantigas do Maio”, gravado na França, em 1971, com arranjos e direção musical de José Mário Branco.

“Apesar de não ser inicialmente concebida como uma canção de protesto, as mudanças feitas na altura da gravação atribuíram-lhe uma mensagem altamente política no contexto da ditadura do Estado Novo”, pelo que “’Grândola, vila morena’ tornou-se um símbolo da luta popular e um património nacional”. E a verdade é que foi uma das poucas canções de Zeca Afonso que escapou à censura que, aparentemente, não entendeu as referências ao povo, que é “quem mais ordena”.

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Numa linguagem simples e com um ritmo de cadência quase militar, que faz lembrar o passo arrastado dos trabalhadores e dos cantores dos grupos tradicionais alentejanos, a canção evoca uma marcha libertadora, ao mesmo tempo que o coro oferece uma sensação de energia e de força.

“Grândola, vila morena” afirma-se, desta forma, como um verdadeiro hino que exalta a união, a força, a invencibilidade na construção de um tempo novo, marcado pelos valores humanistas da fraternidade, solidariedade, amizade, igualdade, em que "o povo é quem mais ordena":

“Grândola, vila morena,
Terra da fraternidade,
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade.”

Assinalando os 50 anos do 25 de Abril, a edição 25 de “A Cantiga é uma Arma” recorda esta canção escrita vários anos antes da Revolução, mas que adquiriu uma visão utópica, de sonho e de luta.

Vamos, então, ouvir – e cantar a versão original de “Grândola, vila morena”, com Zeca Afonso…

Para celebrar Abril e o impacto da Revolução dos Cravos a nível global, propomos ainda uma visita a Chico Buarque e ao tema “Tanto Mar”.

Trata-se de uma saudação de júbilo ao 25 de Abril, com uma letra que foi censurada no Brasil.

Para o futuro, ficou um verso memorável: “Foi bonita a festa, pá!”.

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