“Memorial do Convento” é uma reescrita subversiva da História “oficial”
“Memorial do Convento”
é uma reescrita subversiva da História “oficial”
“Para uma síntese da leitura de ‘Memorial do Convento’”, de José Saramago, foi o tema genérico de uma conversa em linha que Cândido Martins, professor na Universidade Católica e investigador, manteve com alunos e professores da Escola Secundária de Ponte da Barca.
A sessão foi aberta pelo Diretor do Agrupamento, Prof. Carlos Louro, que, depois de saudar os participantes, apresentou o convidado e realçou a aposta no fomento e consolidação de aprendizagens, através do recurso aos mais diversos contextos.
Num registo sereno, pedagógico e muito assertivo, Cândido Martins começou por assinalar a feliz coincidência de a iniciativa coincidir com o dia em que passa o décimo aniversário da morte de José Saramago (18 de junho).
Num primeiro momento, falou da génese do romance, relevando a vontade do autor de imortalizar os humilhados e ofendidos que foram escravizados ao longo da construção do palácio-convento de Mafra.
Em termos de universo diegético, apresentou a(s) história(s) possíveis, nomeadamente, a epopeia da construção de um edifício (Poder), a utopia da construção de uma passarola (Saber) e o enredo de uma relação amorosa (Amor).
A linguagem e o estilo, com predomínio da liberdade de pontuação e do discurso direto, num contexto de valorização da oralidade / fala, e a riqueza simbólica da escrita, presente, por exemplo, nas construções do palácio-convento e da passarola, nas múltiplas viagens, e no jogo dos nomes, das relações, dos números e das cores, foram outros tópicos explorados na intervenção.
No que à temática dominante diz respeito, Cândido Martins afirmou que o romance apresenta uma visão alternativa do passado, ou seja, uma reescrita subversiva da História “oficial”, com uma crítica frontal ao poder (régio e religioso) e uma valorização do ponto de vista dos explorados.
Daí que, a terminar, o investigador tenha sublinhado tratar-se de um romance-construção de livre inspiração histórica, uma narrativa intemporal e alegórica que se afirma como um memorial dos dominados.
Encerrou a sessão o Subdiretor do Agrupamento, Prof. Manuel Soares Alves, que felicitou o convidado pela sua magnífica comunicação e reiterou a importância da leitura, mais ainda neste tempo de pandemia e de confinamento, fazendo apelo a outras obras de Saramago.
Recorde-se que esta conversa em linha sobre uma obra que faz parte dos conteúdos programáticos de Português no 12.º ano aconteceu no âmbito da parceria que o Agrupamento mantém com as edições Opera Omnia e contou com a organização da Biblioteca Escolar e do Grupo de Português.
A Organização