A CANTIGA É UMA ARMA – “Que força é essa?”

Quinta, 01 fevereiro 2024

A CANTIGA É UMA ARMA – “Que força é essa?”

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“A Cantiga é uma Arma” desta semana é dedicada a uma das primeiras músicas de Sérgio Godinho, com uma clara orientação de protesto contra as formas de repressão impostas ao proletariado.

Falamos da canção “Que força é essa?”, que faz parte do LP de estreia "Os Sobreviventes", gravado em finais de abril de 1971, nos arredores de Paris, mas que só seria publicado no ano seguinte, em setembro de 1972.

Tal aconteceu por estratégia comercial da editora, a “Sassetti”, para não fazer concorrência ao LP "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", de José Mário Branco, que foi a grande aposta da casa para o último trimestre de 1971, a mesma altura em que a “Orfeu”, de Arnaldo Trindade, também editou os álbuns "Cantigas do Maio", de José Afonso, e "Gente de Aqui e de Agora", de Adriano Correia de Oliveira.

É neste contexto de grande agitação que vem a público mais uma voz de contestação ao regime, com “Os Sobreviventes” e a canção “Que força é essa?”, em que se lança um grito cívico de consciencialização e de revolta face à exploração dos trabalhadores.

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“É de crer que Sérgio Godinho se tenha inspirado na situação concreta de exploração dos emigrantes portugueses em França (…), mas os principais destinatários da mensagem eram os que viviam cá dentro, sob a vigência da ditadura, ainda mais mal pagos, com piores condições de trabalho e menos direitos laborais.”

2324 15 sergio godinhoNão admira, por isso, que o álbum tenha caído nas garras da censura, “ao ser interditado três dias após o lançamento, sendo sucessivamente autorizado e novamente proibido.”

O sucesso de “Os Sobreviventes” foi, no entanto, imparável, recebendo o Prémio da Imprensa, em 1972, e o Prémio Bordalo, entregue pela Casa da Imprensa, em 1973, como "Melhor Disco Português do Ano" na categoria “Música”, “pelo seu triplo aspeto de qualidade, significação e consciente e eficaz trabalho de equipa”.

Mais de cinco décadas depois, “Que força é essa?” continua um grito intemporal de consciencialização face às injustiças e de revolta contra a submissão que “manda obedecer” e calar:

«Vi-te a trabalhar o dia inteiro,
(…) muita força p'ra pouco dinheiro!
(…) Que força é essa, amigo,
que te põe de bem com outros
e de mal contigo?»

Vamos, então, ouvir – e cantar – “Que força é essa?”, com Sérgio Godinho…

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