Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 6

Terça, 05 novembro 2024

Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 6

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(…) «quem não sabe arte não na estima.»

«Enfim, não houve forte Capitão,
Que não fosse também douto e ciente,
Da Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão-somente.
Sem vergonha o não digo, que a razão
De algum não ser por versos excelente,
É não se ver prezado o verso e rima,
Porque quem não sabe arte não na estima.»

Luís de Camões, “Os Lusíadas”, V, 97.

Nas estrofes finais do canto V, Camões critica os Portugueses, seus contemporâneos, porque desprezam a poesia, as letras, a arte em geral.

De facto, grandes figuras da Antiguidade Clássica, seja da Grécia, seja de Roma, para além da arte bélica, tinham grande erudição e cultura.

Já no que diz respeito a Portugal, o narrador lamenta, envergonhado, que a epopeia da expansão marítima só tenha produzido heróis de força bruta, sem qualquer estima pela arte e pela cultura:

«Enfim, não houve forte Capitão,
Que não fosse também douto e ciente,
Da Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão-somente.»

Neste queixume, Camões inclui o próprio Vasco da Gama, pela indiferença que manifestava quanto à divulgação dos seus feitos, ao contrário do que se tinha passado com os heróis da Antiguidade Clássica.

Ora, a verdade é que os Portugueses são bravos e destemidos e o próprio Vasco da Gama superou os antigos em heroicidade. Mas esta heroicidade só será imortalizada se for cantada pelos poetas, se houver sensibilidade para apreciar e acarinhar a arte, a poesia. Doutro modo, perde-se a nossa memória coletiva e perde-se a força inspiradora do exemplo, que incentiva o homem à imitação ou superação desses feitos sublimes e mobiliza para novos feitos.

Daí a importância do ideal de herói renascentista, um herói que concilia as armas e as letras. E daí o lamento do poeta, que não esconde a sua perplexidade perante o facto de os Portugueses serem “tão ásperos”, “tão austeros, / tão rudos e de engenho tão remisso” (V, 98), e, pior ainda, não se preocuparem minimamente com esta sua pobre condição.

Séculos e séculos depois, este desafio continua intemporal.

Em 2024, cada um dos Portugueses manifesta apetência pela arte e estima a cultura?

Quem não sabe arte não a estima. E quem não estima a arte não valoriza a dimensão libertadora da condição humana!

A arte humaniza, a arte salva! A arte eleva-nos ao universo da criação.

Mas, afinal, o que é arte?

Eis uma reflexão de “GCF Global”…

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