Crónica de uma Morte Anunciada (Gabriel García Márquez)
Em grande parte desta obra, são questionados comportamentos das mulheres, pois Ângela Vicário não era virgem na altura do casamento com Bayardo San Roman, facto que acabou por provocar o abandono do seu marido, um espancamento por parte da sua mãe e, ainda, uma vítima mortal. Uma dupla cultura está bem patente ao longo do livro, assim como o casamento por conveniência, em que o importante é a riqueza e não a felicidade.
O que mais impressiona na história é o facto de toda a comunidade saber que o crime acontecerá. Eles sabem quem, quando e onde, mas ninguém o impede. Aqui, o romancista evidencia a sua habilidade em trabalhar com a psique humana. Ao longo da história, descreve-nos o lugarejo, fala sobre os costumes e valores presentes nesta comunidade e como essas pessoas sentem e pensam. Um outro aspecto de que gostei particularmente é a velocidade alucinante da narrativa, as retrospecções, antecipações e o trágico e inevitável fim.
De salientar a intenção do Autor em criticar uma mentalidade primitiva, que permite que um assassínio, mais do que premeditado, tenha uma pena irrisória e que uma jovem seja violentamente penalizada por não ter o comportamento sexual esperado para a época e no meio onde vive.
Por outro lado, Gabriel Garcia Márquez pretende, também, demonstrar a consternação face à incrível quantidade de coincidências funestas, acumuladas, que deixam no ar a inquietante reflexão de que “a fatalidade torna-nos invisíveis”. Assim sendo, o livro deixa um sentimento de vergonha, porque nós somos “escravos” da sociedade em que vivemos.
Ana Isabel Cerqueira, 12.º C